terça-feira, 24 de julho de 2012

SOBRE A BREVIDADE DA VIDA


     Primeiro capítulo do famoso texto de Sêneca, dirigido ao seu sogro, para que o mesmo se dedicasse mais à filosofia, o chamado gênero exhortatio ad philosophiam (exortação à filosofia), escrito provavelmente no ano 55 d.C., mas incrivelmente atual; assim como as verdades tendem à eternidade.

 
    A maior parte dos mortais queixa-se da malevolência da Natureza, porque estamos destinados a um momento da eternidade, e segundo eles, o espaço de tempo que nos foi dado corre tão veloz e rápido, de forma que à exceção de muitos poucos, a vida abandonaria a todos em meio aos preparativos mesmos para a vida. E não é somente a multidão e a turba insensata que se lamenta deste mal, considerado universal: a mesma impressão provocou queixas também de homens ilustres. Daí o protesto do maior dos médicos: “A vida é breve, longa, a arte”. Daí o litígio (de nenhuma forma apropriado a um homem sábio) que Aristóteles teve com a Natureza: “aos animais, ela concedeu tanto tempo de vida, que eles sobrevivem por cinco ou dez gerações; ao homem, nascido para tantos e tão grandes feitos, está estabelecido um limite muito mais próximo”. Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela passou por nós sem que tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mal senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor.

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